terça-feira, 20 de julho de 2010
A sentença da íris
A luz de sofrer enamorado
Veste de brilho o inseguro
Despede o breu imaculado
Soçobra no mar da angústia
Nau sem leme em esperança
Se desejo se passa por guia
O sonho às águas se lança
Na travessia ao porto seguro
O amor é percurso sagrado
Alma saciada por alegria
Destino prescrito na crença
Um verso deixado em desuso
É ardor de essência ceifado
A íris pela estrela se avia
Se amar é do réu a sentença
domingo, 9 de maio de 2010
Ensaio
Em dia de branco e de rei
De súdito, fui uma parte
De majestade, nunca serei
Sei só o andar da vontade
Tua vida, reverenciei
Encolhido no pé da ausência
Na margem do ar e desatino
Respiro teu olhar de destino
E padeço cegueira e carência
Por reza e pecado, me assino
Te amar virou minha doença
Nem quero cura nem vacina
Não há anticorpos pra alma
Quem ama se condena à sina
Sabe que à morte se entrega
Viver, a própria vida ensina,
É existir para render a amada
E apertado no berço do adeus
Embalo o amanhã de um sonho
Escuto a voz de um eu todo meu
Mas é teu olhar que componho
Em linhas de veias do meu breu
Eternidade é a rima que ensaio
terça-feira, 13 de abril de 2010
Nunca li
Nunca li nenhum poema
em que versos não rendessem
tributo ao teu riso
Nunca li nenhum romance
em que o amor não mostrasse
o fruto do teu beijo
Nunca li nem ouvi
canção que não tivesse
partitura da tua voz
Nunca li nem senti
parábola sem que houvesse
a serventia do teu nome
Nunca li nem contemplei
céu que dispensasse
a alma dos teus olhos
Nunca li nem admirei
oceano que não fosse
o mar da tua íris
Nunca li nem senti
luz que não viesse
no raiar da tua pele
Nunca li nem percebi
breu que não lembrasse
a dor da tua ausência
Nunca li nesses dias
que só há felicidade
se o destino te alcança
Nunca li nesses meses
que a vida toca o sonho
quando você me abraça
Ah... o que eu nunca li nem aprendi...
E o que eu nunca lhe neguei e devia...
O peito, quem finca, ali, nem vê
Que o amor me arde insone
E que o sempre nunca esgota
Pois viver-te me consome
Sou escravo se me és rota
Alforria a sede da minha fome
Sirvo a paixão que te devota
Me tranca ali nesse teu nome
sexta-feira, 5 de março de 2010
Aparte
e tenho nada
Grito silêncios
e não sou ouvido
No universo do quase
tudo é parte
Abraço-me ao vento
e aperto a falta
Tateio monólogos
e toco a saudade
Provo beijos
e me ignoro
Vida sem tu
É só um aparte
Entre ser teu amor
E morrer solidão
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Zéfiro
De sorver-lhe a alma indiferente
Queda no olhar a emergência
De tê-la onde repousa o sonho
Fito-lhe nos olhos a cegueira
Da minha torpe vista nula
E enquanto o gesto silencia
De desejo o peito urge
Zéfiro que risca o tempo
Conduz-me ao breu da solidão
A ambição selada em medo
Reescreve a frustração
A ânsia rascunha o peito
E a lágrima tatua o rosto
O horizonte perde as cores
Se você não me quiser
Leio o futuro no teu cheiro
A fragrância de um destino
Busco a letra de um beijo
Na partitura da tua boca
Mas o receio me vagueia
E a insegurança me repele
Se eu pudesse moldaria
O amor com nossa pele