quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Economia do amor

O amor é uma riqueza sem preço
Que transgride as leis do mercado
A procura enriquece pelo avesso
Se a oferta faz o jogo do acaso
E o lucro vale mais que dinheiro
No retorno de um abraço aplicado

Em cada peito existe uma agência
Salas que acolhem os sentimentos
Os olhos são bancos de inocência
Quando o riso se faz investimento
Amar não é negócio da prudência
Mas a troca de eternos momentos

Um coração que ama não poupa
Quanto mais gasta mais verba tem
O imposto que abate não rouba
Recolhe um mimo mas deixa cem
O tributo sobre os afetos vigora
Feito ponte entre carinhos e réquiem

Ama quem sabe que repartindo sobra
Se a bolsa respeita o valor da verdade
No contrato firmado por quem se gosta
As cláusulas só exigem a felicidade
Toda transação fica fadada à glória
Quando duas almas formam sociedade

Na relação o afago se comercializa
Mas somente possui uma cotação
Doação se vende pra quem utiliza
O beijo como moeda da emoção
O carinho até compra uma brisa
Quando ao amor se estende a mão

Na paixão o querer é um câmbio fixo
Que flutua no toque da imaginação
A ganância rima com um sorriso
Quando o desejo se torna a ambição
Cada instante multiplica o seu custo
Para o amor explodir como a inflação

Desencontros até lembram prejuízos
E desencorajam o faisão especulador
Ele apanha o que depositou em juízo
Quando uma crise traz o ciclo da dor
E procura a isenção em um paraíso
Para fugir das oscilações do amor

Mas não existe déficit que perdure
Para carregar o amor à bancarrota
Por mais que a falência se insufle
A inadimplência não fecha a porta
E antes que a dívida se confirme
O destino vê liquidada a sua cota

A balança que indicava moratória
Num aconchego tem um superávit
A negociação que ia para derrota
No sexo subsidia um overnight
E um casal que no amor se porta
Desfruta o saldo da reciprocidade

No amor se jura mas não há juros
Se as palavras elevam o juramento
O índice que dispara é um seguro
Se a jura se torna um mandamento
E todo cálculo fenece no escuro
Se carícias esvoaçam na jura do vento

Na matemática fria do absurdo
O afeto esquenta os pagamentos
Os gráficos tentam ser obtusos
A afeição é a contagem do tempo
Se o amor é imperialista do futuro
A economia é relegada ao relento

Ao amigo nômade,

Há um pingo de estrada
No semblante do poeta
Cada dia uma jornada
Cada noite uma seresta
E no meio da cantata
O sabor de uma conversa

O poeta é volúvel
Como doce em boca quente
Desliza entre paixões
Escorrega entre mentes
Fabrica as ilusões
Mas não padece ao repente

Por entre olhares se confessa
E na ânsia se motiva
Por entre vozes se expressa
E nas poesias se fascina
Constrói versos de ousadia
Que no toque do tempo oscila

As estrofes de amor
São eternas por um instante
Arrebatam o calor
De um desejo inconstante
E o tornam um impostor
De interesse cativante

Rimas de arqueiro
Sílabas como flecha
Um movimento certeiro
Um peito de uma donzela
Casablanca como modelo
A conquista em emboscada

O poeta traz o dom
De imortalizar a palavra
No galante de um ardor
No tropeço de uma graça
É sempre o pudor
Da conversa amigada

Um passado errante
Que na busca se vale
Amar por um rompante
Freqüentar as beldades
Acrescentar os romances
No currículo da vaidade

Entre elas um personagem
Entre amigos, é diferente
Sobra o vigor da coragem
De um caráter onipresente
Que com carinho só afaga
O sorriso de um carente

O diálogo resplandece
Entre becos do acaso
A união se fortalece
Na sinceridade do abraço
A relação não arrefece
Se com respeito faz um laço

Amigo de escrita suave
Que faz prosa em poesia
Jornalismo de versos nasce
Informando com maestria
Poeta que humaniza dados
Nos jornais do dia-a-dia

O nômade das feministas
É sedentário da bondade
Migra feito um ilusionista
E ancora na felicidade
Poeta, é bom tê-lo à vista
E na foz de uma amizade

Longe da distância

No lapso dos quilômetros
Instalou-se a distância
Estrada de corações francos
Lembrança ainda que tardia
No tempo de uma hegemonia
De encontros instantâneos

O acaso foi escorregadio
Deslizou por entre os caminhos
Separou do jardim cravo e flor
No labirinto de um desaviso
Resolveu validar nosso amor
Testando amantes a fio

Que ardor não se apaga
Com o sopro de uma ausência
Que paixão se agüenta
Onde sobra uma carência
Se a rotina agora é feita
De retratos e essência

Imploro ao vento teu cheiro
Peço às noites o perfume
Escuto nas aves teu recado
Os olhos vejo em vaga-lumes
A tua pele sinto no abraço
Quando a noite o dia assume

Quanto dói uma sentença
Ajuizada na saudade
Se distancio da presença
Acolho a ansiedade
De suplantar o destino
Pela força da vontade

E não há metro que separe
Meu amor dos teus dias
A distância nunca vale
Quando a vida anuncia
Que no mundo de nós dois
Mora a eterna sinergia