terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Nunca quis...

Nunca quis dominar o tempo
Nem submeter os caprichos do amor
Ao crivo idiota das vontades tolas
Ninguém sabe que passo dar
Na estrada dos sentimentos

Os forasteiros se aventuram
E pagam o preço da petulância
Os covardes se esquivam
E amargam a dor do que não vivem
O caminho tem pedras e flores
Para quem não senta à margem da via

Abracei sonhos de eternidade
E acalentei paixões instantâneas
E o que sou longe das decepções?
Um punhado de desejos,
Uma gama de vontades,
Um poço de ilusões...

Amor não se toca
Paixão não se rende
Virulência se ensaia
No rodapé do acaso
E só se sofre com o
Arrependimento da inércia

Beijos de infância se perderam
A inocência era o trunfo
Que se derramou nos dias...
Preocupação agora é rotina
Boca sedenta se incrimina
Num futuro sempre incerto...

Que mal fez o corpo que quis
Ser doado aos prazeres súbitos?
Quando na fertilidade de teu anseio
Plantei a volúpia mais frondosa
Que os ramos de qualquer receio
Não lhe deixariam tão formosa?

A vida não rima
Nem é estéril quanto os textos
Mais castigados por mãos secas.
Cada um põe a palavra que quer
Na frase dos seus momentos
Embora só germinem os fonemas
De quem soletrou amor no vento

E assim a prosa escorre
A poesia se ventila
Entre tropeços de caligrafia
E artimanhas da razão
O relógio assimila a escrita
De um mundo sem magia
Quando morre o coração...

Nunca quis vencer o erro
Mas afaguei o acerto como se,
No excesso de carinhos,
Houvesse da vida retribuição

Amargo a ausência da mão recolhida
O abraço que não veio quando quis
Sofro o germe da indiferença
De uma reluzente consciência
Que não soube fazer raiz
E no destino perdeu guarida

O papel só pede a letra seguinte
Se as idéias produzem sincronia
De nada adiantam expressões pedintes
Como se revirassem uma folia
E não possuíssem o requinte
Da mais pueril ideologia

O poeta é um sarcástico
Sofre para escrever
Escreve para sofrer
Vislumbra o fantástico

Seqüestra o papel
Para se regozijar
Sem saber amar
Faz doce o que era fel

Eu nunca quis conquistar futuro
Reinar sobre uma possibilidade
Mas ergui no destino um muro
A fortaleza da minha vontade
Como se pudesse governar amor
Contra barbárie de uma saudade

Mas reconheço o fracasso vão
De uma sorte desencontrada
Ceguei-me à luz de uma visão
De uma batalha ressabiada
E na luta por uma emoção
A paixão foi derrotada...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Desfez-se...

E então o ar se desfez...
Como flor de primavera
Que no outono murchou...
Como chuva de quimera
Que no tempo se firmou...

Separando duas eras

Foi-se no som nostálgico
da madrugada
A melodia reverberada
Das manhãs
De almoços festejados
De mensagens insanas...

A cortina se fechou ao palco da paixão
A última cena ensaiou eternidade
Nos sorrisos de costume...
Nos olhares de lassidão...
Nos atalhos da afinidade...
Nas palavras com perfume...
Na semente das vontades...
Nas carícias de um vão...

Em cartaz em nossa história
Se apresenta a saudade

O tempo foi amigo
E se esqueceu de andar
Sob a energia do teu ego
Me desvaneci a sonhar
Cada gota de teu jeito
Me atrevi a eternizar

Mas foi-se o espírito de liberdade

A poesia que fala
O sorriso que versa
A estrofe que vive
O soneto que ainda me embala...

Recolheu-se à rotina
Meu sabor de perdição
E levou com seus medos
Meu dom de ilusão
Não embarco em profecia
Minha queda é o chão

A lágrima ficou presa
E pediu para brotar
Gritou por um destino
Pôs-se a chorar
No paradoxo do desencontro
Amou o amar

As mãos se fizeram inquietude
Falaram o que o coração calou
Pensamentos sem plenitude
Espaço aberto pro que restou
Um esboço de uma atitude
No universo de quem se amou

Quem tem o poder de reger o futuro?
Quem amarga a ansiedade do que não se sabe?
Quantas covardias esconde uma segurança?

Mundo de perguntas e poucas palavras
Respostas tolas
Vãs
Inexistentes

O que deseja um peito palpitante,
Senão o olhar apaixonado
O beijo adocicado,
O calor inevitável,
Da abreviatura do céu
Retratado na amante?

Passos errantes. Sem explicação. Inconfessos.

Desejos armados. Língua afiada. Inertes.

Que estrada une atrações iguais?
Quando o mapa se arvora
No presente
O provável fica ao alcance
De mãos perenes

O peito ruiu
O sorriso chorou
Os olhos emudeceram

Bateu asas e levantou vôo
O atalho da felicidade

A filosofia da expectativa
Se agachou à realidade
Nem Sócrates, nem Kant
Nem resquícios de maldade
Sobram as dores do desfecho
À margem da insanidade...

No drama do que não se fez
Resta a lembrança do que seria
Das conversas das hipóteses
Da especulação sobre ousadia
Da espera de uma resposta
Da leitura em poesia...

Saudade do que não vingou
É morrer ainda em vida

E assistir ao funeral
Da própria alma apaixonada


A dança exibiu seu último passo
O brega que uniu os laços
Se decantou no silêncio
Das expressões amenas
Que enterraram trajetórias

A mordiscada virou lenda
E regalia
No imaginário da sedução

À visita inesperada,
Fechou-se a porta
Da calada das aventuras

O dedilhado,
A excitação,
A malícia,
A paixão,
Os olhos revirados,
O gemido,
O telefonema,
O toque
De dois corpos sedentos
Se viram censurados

Entre desejos incautos
Restritos ao quase...
... e, agora, à proibição.

As metáforas se diluíram
Na angústia de quem não as vive mais...
A poesia está embargada
E não consegue ser chorada...
Faltam versos de lágrimas,
Faltam dores rimadas,
Faltam beijos de consolação.

What’s possible to the poet
make beyond the time if...
… he can’t take his eyes, his mind, from you…?

Aguarda ansioso o passeio
Da loucura não realizado
Sonha o fim-de semana perdido
Em meio ao inesperado...

Emoldurei a janela dos seus olhos
Na parede secreta do meu coração


Mas a vida há de enfrentar a estrada
Se as lágrimas lavam a dor da ausência...
Filosofia de amor deixa suas pegadas
Solapam os espaços de uma carência...
Na certeza que tens de que fosses amada
Eu vejo a razão da minha insistência...
E nos deslizes de tua timidez desnudada
Percebo que houve entre nós existência...

E que chova o destino.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Vida, som e tempo...

A vida toca dentro dos olhos
E os dias escrevem sinfonias
O destino é a soma de acordes
Em canções cifradas na retina
O futuro é o retrato de uma íris
Na melodia embalada na sina

A vida tem o ritmo do acaso
E a letra se faz do repente
Erros marcam suas notas
Acertos se vestem de tempo
A partitura de uma história
É clave de sons de momento

O destino é uma canção feliz
Entoada nas brechas da solidão
Canta quem se afina à raiz
De um amor ou de uma ilusão
A contagem de um aprendiz
São os diálogos de um refrão

Vive quem soma músicas
Ao repertório do coração
Toda dor de uma angústia
Se traduz em inspiração
Todo riso de uma alegria
Faz de pêndulo a emoção

Viver é se tornar maestro
Da orquestra de uma rotina
Reger fatos como versos
Ver no tempo uma rima
Ouvir de cada sentimento
Uma voz de quem ensina

Composição conta em acervo
Pelo agudo da experiência
No relógio de um solfejo
No valor de uma regência
O compasso de um ensejo
É obra-prima da existência

domingo, 20 de janeiro de 2008

Acaso

Às vezes, tempestades se travestem de brisa
e mares revoltos se escondem na aparente
tranqüilidade da superfície.

Nem sempre o vulcão adormecido
pode ter a erupção prevista.
Ou subestimada.

Feliz é o tempo,
que não conhece o acaso.

Aos mortais,
resta a indefinição.

Amén

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Meio-dia...

É sempre meio-dia quando eu te amo
É sempre calor quando te pressinto
É sempre verão quando me declamo
É sempre ardor quando te excito
É nunca dor quando eu te chamo
Se me embriago na fonte do teu absinto

É sempre céu claro quando me olhas
É sempre eclipse quando me abraças
É sempre gravidade quando me tocas
É sempre universo no ar de tua graça
É nunca afeição que altera a órbita
Se vagueio nos sonhos da tua galáxia

É sempre primavera quando acordas
É sempre fotossíntese quando respiras
É sempre um jardim quando desfloras
É sempre uma brisa quando desfilas
É nunca outono que se revigora
Se me guio nas estações dos teus dias

É sempre uma sinfonia quando tu falas
É sempre um poema quando te descrevo
É sempre uma rima que tu embalas
É sempre a feição de um soneto
É nunca um verso na encruzilhada
Se nos compomos na face de um dueto

É sempre macio quando me agarras
É sempre uma canção quando sussurras
É sempre o toque de uma pluma plácida
É sempre o frescor de uma água pura
É nunca incômodo de uma pele rasa
Se mergulho no mar do amor que dura

É sempre deslize quando te prendo
É sempre escorregadio quando te vejo
É sempre confirmação que estou querendo
É sempre a sincronia que não tem pelejo
É nunca o conflito que se vê ardendo
Se na tua essência sou só desejo

É sempre oceano quando me navegas
É sempre vela cheia quando te anuncias
É sempre maresia que à praia se entrega
É sempre a onda que se vangloria
É nunca tempestade que se congrega
Se me banho nas águas do teu mar que guia

É sempre o que o nunca tem vontade
É nunca o que jamais será pra sempre
Quando no futuro da possibilidade
O destino não for mais do presente
Pro fim dos dias serei a ansiedade
Do princípio de amar eternamente