A estrada se fecha ao desejo
A porteira barra a vontade
A tranca isola os corpos
Não há margem para riscos
Os gestos sentem a barreira
As mãos se perdem no vazio
Os olhos não perseguem mais
Falta espaço para os versos
A conversa míngua na solidão
O cumprimento seca a razão
A proximidade se distancia
Não se tem palco para ação
A liberdade tropeçou no peso
Risco se resumiu à prudência
O silêncio reina sobre o ímpeto
Não há lugar para trocas jamais
E aquela esperança padeceu
Na insistência de uma recusa
No receio do desconhecido
Nas mensagens diuturnas
O vôo não saiu do chão
Ninguém arremete na indiferença
O rascunho se apagou
No titubeio de quem escrevia
O barraco desabou
Na despedida de quem se afasta
A dança tem seu último capítulo
As pernas se desequilibram
O próximo passo é o monólogo
O abraço virou recordação
O beijo não chega ao ombro
A mordiscada arrefeceu no imaginário
As declarações constam no arquivo
Dos olhos doces da beleza
Resguardado por lentes e charme
O sorriso de mil faces não se traduz
Na linguagem de quem ainda quer
Tímido, sorrateiro à base de covas
Agora se rende à seriedade do impossível
Sobram palavras perdidas no passado
Sobram calafrios nas espinhas
Sobram os tremores do horizonte
Sobram sonhos recheados de pecado
Restam os resquícios
do desejo fulminante
Mas cessou a confusão
dos sentimentos
É o fim indesejado
Das premonições
Show e vida não combinam
A realidade pede o viável
Disfarça-se a encenação
No teatro do escondido
Os versos encerram o capítulo
As estrofes copiam o fácil
A poesia fica acima do encanto
Mas não contagia mais o riso
O espírito de ousadia
Vagueia ao alcance da tristeza
E à sombra do remorso
O desejo simples e mútuo
Perpassa alguns dias
A insônia não fabrica
Sonhos de outrora
Gestos, palavras, trajes
Se rasgam na efemeridade
De quem viveu o instante
Não conquistado
Sobrevive a atmosfera
Do show do insconsciente...
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