quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Meus olhos... teus olhos

Meus olhos se viram a sós
Ainda pacientes e atentos
Adornam teus passos...
Mapeiam movimentos...
Enxergam tua face...
Descrevem teu brilho...
Absorvem teu ar...
Mas estão fadados à vigília

Meus olhos não mais comungam
O sabor do teu sorriso
Meus olhos não mais tocam
A reciprocidade do desejo
Meus olhos não mais tomam
A tua loucura emprestada

Meus olhos cegaram
À falta do teu olhar
Meus olhos emudeceram
À ausência do teu perfume
Meus olhos cansaram
À carência dos nossos corpos

Meus olhos se repaginaram
Na dança da indiferença
Meus olhos se acinzentaram
No repúdio da possibilidade
Meus olhos se enfraqueceram
Na força do teu afastamento

Meus olhos se perguntam
Pela ousadia do teu calor
Meus olhos se indagam
Pelo paradeiro da tua vontade
Meus olhos se questionam
Pela fuga do teu ímpeto

Meus olhos já não detectam
O que era flagrante
Meus olhos já não tateiam
O pecado esperado
Meus olhos já não sentem
Sinais de receptividade

Meus olhos choram
A sorte
Indesejada
Meus olhos lamentam
A loucura
Irrealizada
Meus olhos sofrem
A conquista
Inatingida

Meus olhos só assistem
À independência dos teus
Meus olhos só codificam
A dormência dos teus
Meus olhos só farejam
O eclipse dos teus

Teus olhos passeiam ao longe
Brincam no tempo
Saciam-se nas letras
Maquiam-se nas festas
Afugentam-se na distração

Teus olhos agora se escondem
Camuflam-se nas obrigações
Flagelam-se na seriedade
Torturam-se no impossível
Despedem-se do prazer desconhecido

Teus olhos se doutrinam
Conhecem os limites
Dominam as fraquezas
Impedem os deslizes
Contornam as rotas do acaso

Mas teus olhos não falam
O que os meus pedem para ouvir
Mas teus olhos não sussurram
O que os meus esperam sentir
Mas teus olhos não beijam
A alma que os meus te entregam

Teus olhos não mais enxergam
Os meus olhos que te devoram
Teus olhos não mais sucumbem
Aos meus que só te querem
Teus olhos não mais se mostram
Aos meus que te decoram

Meus olhos tolos seguem à espreita
Teus olhos firmes se fortalecem
Meus olhos frágeis se martirizam
Teus olhos fortes se reflorescem
Meus olhos débeis morrem vagos
Teus olhos certos não convalescem

Queria que teus olhos
Ensinassem aos meus
Os segredos da recusa
Diante do desejo

Queria que teus olhos
Explicassem aos meus
Como driblar a ânsia
Do querer imediato

Queria que teus olhos
Conduzissem os meus
Ao alívio de nada sentir
Frente ao que se almeja

Por que teus olhos não
Me contam o enigma da
Esperança esvaziada?

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