quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Alforria

Dedilho o labirinto do desejo
e destranco miragens...
fito teus olhos
e acordo anseios
na porta do teu lábio
afianço o meu beijo
na parede da tua pele
meu corpo enquadro
e ao quarto dos devaneios
confino nossos prazeres...

Teus sentimentos emparedam
devassidão dos meus passos
mas à sombra de tuas fendas
meu disfarce perpasso
levo às ruínas tua fortaleza
e império de sentidos refaço

Piso dentro da tua alma
e guio o teu desenlace
encurvo dores
sublimo amores
suspendo pudores
em nossos abraços

Entre sofismas e solfejos,
confissões e reclusões,
delírios e falsas noções,
o que grita mais alto
no silêncio das metáforas?

Palavras, gestos, olhares
tudo soletra vida
arrepios, latejos, suores
tudo em mim te escuta
mergulho em tua verdade
e minha metade traduzo

Quero perder a fronteira
do limite nos nossos atos
o nó das indecisões
deixa que eu desato
com tez, olhos e bocas
nas aspas do nosso contato

Quero deflorar
loucura
patentear
desvarios
inaugurar
segredos
no tempo do hoje

Virar-te ao avesso
do nada
enlouquecer
tuas coerências
decifrar
teus versos de medo

Escalar teus poros
na ponta
da língua
Respirar teus ares
no cheiro
dos dedos
Colonizar teu peito
na síntese
dos nossos corpos

No labirinto dos desejos
eu tateio a saída
no intervalo entre teu olhar e minha sorte
Saboreio atalho
na rota da tua sede à minha entrega
E ressuscito na esquina
entre tuas cinzas e meu despudor

No cárcere das privações
teu corpo quer liberdade
P'ras algemas de indiferença
os sentidos são a chave
O meu deleite é alforria
se escravizas a vontade...

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